terça-feira, 2 de março de 2010


DE ÓCULOS ESCUROS
Guida Linhares

Pois é, às vezes nos sentimos assim. Um limão siciliano de óculos escuros. Isso acontece quando despejamos alguns sonhos nas águas do mar. Quando durante algum tempo alimentamos uma ilusão e de repente como uma bolha de sabão, ela desaparece da nossa frente.

Porque será que nos iludimos tanto? Porque será que não podemos passar a vida em brancas nuvens de concretude e realidade? Será que aquele que vive com os dois pés fincados no chão é mais feliz?

Bem, só posso falar das pessoas que passaram pela minha vida e deixaram algum ensinamento, alguma luz.
Conheci pessoas assim, que viviam apenas o real, o concreto, sem nunca se envolverem com as teias ilusórias do amor, por exemplo.

Conheci pessoas que nunca sabiam dizer se eram felizes. Parecia que estavam sempre presas num arame da vida, com dois pregadores resistentes, e dali nem queriam sair, com medo de se envolverem, de não dar conta das situações resultantes, enfim sentiam que o mundo poderia ser bem melhor, se não abraçassem nada, e ficassem ali dependuradas no varal da vida.

Estas pessoas ainda observo de longe, sem que elas saibam. Elas continuam infelizes. Me mostram que as ilusões são necessárias, que a vida tem o colorido que se der a ela, que pode ser tão cinzenta quanto o maior temporal, mas pode ter as cores do arco-íris, pincelado a cada manhã, quando se abrem as janelas do quarto e da alma.

Bem, mas isto não invalida como estou me sentindo hoje.
Espero cortar este limão ao meio, espremer num copo, deitar a água gelada e uma colher de açucar bem cheia, para adoçar meu inquieto coração. E que ele entenda que nem tudo que sonhamos dá certo e que por vezes é preciso que se busquem outros caminhos, outras alternativas, para não se correr o risco de passar a vida de óculos escuros.

14/05/2008

Hoje eu continuo a usar o óculos escuro, mas para sair ao sol e curtir tudo o que é bom e bonito que a vida oferece a quem tem olhos de ver beleza e distribuir afeto e ternura. Quanto às ilusões, são necessárias para que possamos voar além da imaginação.

02/03/2010



Um comentário:

Anjo Guardião Branco disse...

Hum, gostei muito. É fato que os dias cinzentos nos apunhalam na mente, alcançando em nós os momentos mais sombrios da vida. Mas se não provarmos da voracidade de tais sentimentos, como poderíamos conceder-nos a vida, a aventura misteriosa qual nos foi mandado viver? Sem o Lúdico, o ilusório, o desprovido de razão, a vida seria um conjunto de cálculos, uma caixinha de Caos apertado nas beiradas, seria uma Caixa de Pandora nunca aberta. Que gostoso é o limão, não? Suas gotas de azedume são gostosas às vezes, nos faz sair do doce, por algum tempo...

Salve a Arte de Aventurar!

Anjo Guardião Branco.